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Um tema a três | Ser lua

Nós sempre gostamos de conversar e compartilhar sobre tudo, do ponto de vista de cada uma, e agora te convidamos a conversar com a gente. Para tornar nosso blog ainda mais plural, esporadicamente nós três iremos escolher uma semana para postarmos algo sobre o mesmo tema. Sem frequência determinada, nem amarras das regras. ​​​​​​

 


Se eu pudesse escolher, seria de novo mulher. Todas as vezes. Em qualquer época. Até mesmo em um futuro em que não exista padrões (oxalá) que definam como deve ser uma mulher. Ainda aí, talvez ainda mais, eu vou querer ter a liberdade de me sentir mulher. Quando penso em liberdade, me vejo mulher. Felicidade também.


Nunca me encantei por homens. (Já por mulheres posso aqui fazer uma lista. Desde a minha mãe ou a Talita do pré até a jornalista que eu descobri semana passada.) Nunca achei que os homens tivessem algum dom especial, um jeito de fazer as coisas passível de admiração. Aquela admiração mais genuína, de encantamento.


Um clichê: o homem é o sol, a mulher a lua. O sol faz o que tem de ser feito, aquece a Terra, faz as plantas crescerem e, em uma hora determinada do dia, está lá lindo para ser admirado. A lua rege os ciclos mais profundos e necessários do planeta: as marés, a menstruação, a concepção, a gestação e o nascimento. Mas não só, a lua tem poder de encantamento. Causa, todo o tempo, a admiração genuína que não se explica.


É difícil ser mulher e ser livre hoje. É difícil porque cada vez que eu estou andando na rua eu penso se aquele homem que está vindo na minha direção vai querer fazer algum mal para mim, se for a noite esse medo piora, se eu estiver de short, mais ainda. É difícil porque em todas as reuniões familiares me perguntam se eu tenho namorado, se eu penso em casar, se eu quero ter filhos, se eu sei cuidar da casa, porque eu não pinto minhas unhas ou uso salto alto. Como se eu fosse só condições. É difícil porque a sociedade tem uma lógica de colocar a mulher em um lugar só. Todas temos de ser iguais, lindas, femininas, boas esposas e mães etc etc etc. Canso só de pensar nesses padrões que me obrigam.


O encantamento que citei não pode ser público, não pode ser inteiro porque até mesmo as mulheres estão ocupadas sucumbindo ou tentando se livrar do machismo. Não somos ensinadas a apreciar nós mesmas, de corpo e de espírito.

Rafaela Oshima

Eu me sinto livre quando eu posso ser mulher sem ter medo de sê-lo. Quando eu posso estar inteira com uma pessoa que emana esse mesmo encantamento e não receber olhares que nos inspiram medo. Quando eu posso gostar do meu corpo. A minha liberdade é estar fora do meio pelo qual eu fui criada, porque ali, longe, eu não preciso ser o que esperam que eu seja.


Quando eu estou lá é como se eu estivesse descendo a ladeira de bicicleta com o vento no rosto e ouvindo uma música boa, mas sem o medo de cair no asfalto.


Sinto-me livre quando eu posso ser mulher.


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